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NOVIDADES

15/Mar/2017              Entrevista ao Professor Jorge Eiras, FCUP e CIIMAR

 

- Como vê a Parasitologia dos Animais Aquáticos em Portugal?

 

Professor Eiras: Esta pergunta é susceptível de várias interpretações, e as respostas podem ser abordadas de várias formas “Como vê?” em que sentido? Como actividade científica no campo da Biologia? Como área eminentemente aplicada na área das Ciências Veterinárias? Como um eventual constrangimento importante para a cultura de animais aquáticos? Como um campo de estudo importante para a Medicina tendo em conta as infecções humanas por grande número de agentes zoonóticos parasitas de animais aquáticos?

     Seja qual for a perspectiva de análise creio, em primeiro lugar, que há indubitavelmente “espaço científico” em Portugal para a investigação na área. Todos os pontos focados acima são áreas de actuação interessantes sob o ponto de vista científico, e nalguns casos da maior importância sob o ponto de vista empresarial. Por outras palavras, a parasitologia dos animais aquáticos em Portugal é uma matéria que pode e deve ser desenvolvida em várias várias vertentes (como, aliás, tem acontecido). A sua importância deve ser considerada em pé de igualdade com áreas científicas mais “tradicionais” (mas não necessariamente mais importantes – e aqui o conceito de importância daria razões para uma longa discussão!). É possível que os organismos que tutelam a investigação científica no País não tenham consciência de muitos dos aspectos que enformam a investigação na parasitologia dos animais aquáticos – infelizmente o número de investigadores da área no nosso país não é muito elevado, e os estudos efectuados não são geralmente atractivos para os mass media. Tenho, por estas razões, algum receio que esta área seja olhada como uma espécie de parente pobre no meio científico português, merecedora apenas de algumas migalhas sobrantes de orçamentos, pelo que é necessário demonstrar a sua importância, quantificar os prejuízos decorrentes dos parasitas, ou a sua eventual relevância sanitária humana. Acima de tudo, porque a Ciência não se faz sem investigadores, é absolutamente fundamental atrair jovens cientistas para esta área - só desse modo se garantirá o crescimento da área e do conhecimento.

 

- Que passado teve, e que futuro terá esta área científica?

 

Professor Eiras: A resposta à primeira parte da pergunta é fácil; em relação à segunda podem serão certamente necessários poderes divinatórios que não possuo.

     O passado desta área no nosso país é infelizmente fácil de traçar. Quer isto dizer, por outras palavras, que até há cerca de três décadas, apenas um reduzidíssimo número de investigadores, nas Universidades e em Institutos do Estado, literalmente em número inferior aos dedos das mãos, dedicaram parte do seu tempo a trabalhos na área da parasitologia dos animais aquáticos, sendo estes representados apenas pelos peixes. Podem citar-se os nomes de Tendeiro, Carvalho-Varela, Machado Cruz, Menezes que, entre outros, deram os primeiros passos nesta área de estudo. As respectivas contribuições foram sobretudo de carácter meramente descritivo e fragmentário, e aspectos importantes como biologia dos parasitas, relações parasita / hospedeiro, ciclos de vida, etc., não foram incluídos de modo geral nos estudos efectuados. Foi a partir dos anos 80 que a situação começou a mudar de forma radical. A escrita a partir deste momento torna-se um pouco difícil para mim mas, para responder imparcial e factualmente ao que me foi pedido, não posso deixar de dizer que foi sobretudo devido à minha acção que a situação da investigação da parasitologia de animais aquáticos começou a mudar no panorama científico em Portugal. Trabalhando na área há pouco tempo interessei um conjunto de Assistentes da Faculdade de Ciências do Porto por estes assuntos, os quais dedicaram a sua investigação a este tema, fizeram estágios e apresentaram comunicações a congressos no estrangeiro, e pela primeira vez se realizaram doutoramentos na área no nosso país, na Faculdade de Ciências do Porto (três sobre parasitologia e um outro sobre bacteriologia). Os vários docentes a que me refiro, todos ainda ao activo, deram, e continuam a dar, provas de grande dedicação, que se traduziu em numerosa e valiosa bibliografia e muitas orientações de doutoramentos e mestrados na área. O panorama científico português alterou-se, portanto, radicalmente, tanto mais que noutras escolas, e institutos, como na Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Direcção Geral de Veterinária, surgiram também investigadores na área, alguns com grande capacidade de trabalho e com obra notável, salientando-se o Prof. Carlos Azevedo, do ICBAS, actualmente jubilado. Entretanto, doutoramentos e mestrados, começaram a surgir também em várias instituições, e pode dizer-se que o corpo de investigadores no país é actualmente robusto, trabalha com grande entusiasmo e, no seu conjunto, originou um acervo de conhecimento assinalável. Assim, a actividade científica portuguesa é bem conhecida internacionalmente pela quantidade e qualidade da investigação que se materializa em grande número de publicações em revistas internacionais de prestígio, pela autoria de livros publicados em Portugal, Espanha, Brasil e Estados Unidos, pela participação em congressos da especialidade, e pela colaboração em projectos com colegas de países de todos os continentes.

     Segunda parte da pergunta – futuro desta área científica. Como dito acima não tenho dotes divinatórios e, portanto, não sei responder. Apenas posso manifestar a esperança de que se desenvolva cada vez mais; que os centros de decisão de política científica reconheçam a importância básica e aplicada da mesma; que as Universidades continuem a ser um agente disseminador do conhecimento e saibam demonstrá-lo. É óbvio que não posso adivinhar, mas a certeza da qualidade e dedicação dos investigadores existentes torna-me optimista e confio que o futuro traga melhores condições de trabalho e mais oportunidades para jovens investigadores.

 

- O que diria a um jovem acabado de se licenciar e que esteja interessado em seguir esta área?

Professor Eiras: Muito simplesmente que procurem integrar-se em equipas credenciadas, e que trabalhem com entusiasmo. Os campos de possível actuação são imensos, muitíssimo diversificados, e susceptíveis de preencher todos os tipos de apetências intelectuais. E, sobretudo, não esquecer a muito citada frase de que o sucesso é devido a 1% de inspiração e a 99% de transpiração!

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7/Mar/2017       Hoje abre oficialmente este site. Não só a TV portuguesa faz anos como acaba de nascer este Projeto de Divulgação Científica sobre a Parasitologia Aquática Portuguesa.

Quem somos?

R.: Sou Profª Mª João Santos, Coordenadora do Grupo da Patologia Animal do CIIMAR, Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental - CIMAR Laboratório Associado. Trabalho na área há 30 anos.

Onde estamos?

R.: No Porto, na cidade invicta, em concreto no Laboratório de Patologia Animal da Faculdade de Ciências e CIIMAR, da Universidade do Porto.

Que tradição há nesta área em Portugal?

Em Portugal faz-se trabalho nesta área ao mais alto nível, e publica-se nas melhores revistas internacionais, como o International Journal of Parasitology ou a Parasitology.

A área foi iniciada há bastantes anos pelo Professor Carvalho-Varela na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, diria que na década de 60-70, e foi continuada principalmente no Porto, pelos Professores Jorge Eiras, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e CIIMAR e Carlos Azevedo do ICBAS, também da Universidade do Porto e do CIIMAR. Ambos estão atualmente já reformados mas ainda muito ativos na Ciência. Como suas discípulas sucederam-se as Professoras Aurélia Saraiva (FCUP-CIIMAR), Cristina Cruz (FCUP-CIIMAR), Maria João Santos (FCUP-CIIMAR) e  Graça Casal (CESPU-CIIMAR). Nesta mesma faixa etária está a Professora Graça Costa que investiga na Universidade da Madeira, doutorada no estrangeiro. Existem agora novos doutorados na área, já da 4ª geração: Dra. Margarida Hermida, Dra. Francisca Cavaleiro, Dr. Luis Rangel, e muitos outros se lhes seguirão. 

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